segunda-feira, março 24, 2008
quarta-feira, março 12, 2008
A Fine Frenzy -
mas o youtube vai continuar para mostrar o que se vai ouvindo...:D...umas das minhas músicas do momento um dos meus albuns favoritos...enjoy
Manifesto (parte 01)
Todos sabem que nunca fui pessoa de me envolver muito em politica. Dou as minhas opiniões algumas ideias sobre o mundo, o país em que vivemos mas fico-me por aí.
Apesar de assumidamente de esquerda, nunca me “militei” em nenhuma ideologia partidária concreta.
No entanto, corre em mim a herança de luta que sempre me foi transmitida pela minha família.
Sou assumidamente de esquerda ou melhor, sou assumidamente pela liberdade, liberdade de ser, liberdade de expressão, democracia, direitos humanos, direitos sociais, igualdade.
Sou-o porque desde que nasci sempre os que me rodearam me mostraram esses valores, mos ensinaram.
Sou-o porque desde sempre ouvi as histórias de luta do meu padrinho / avô, pelo direito dos operários, da liberdade, da igualdade, num regime de opressão, de tortura; as histórias das alturas negras da clandestinidade, das conversas surdas, das actividades escondidas, das reuniões à porta fechada camufladas, das fugas à Policia, dos amigos presos, torturados, dos amigos que fugiam na calada da noite para outros destinos em busca da liberdade que cá não tinham ou da luz que os ajudasse a libertar o país que amavam.
Sou-o porque ainda hoje fecho os olhos e imagino a minha mãe no sótão da casa da minha avó com uma vela a ler os livros “proibidos” que conseguia arranjar. Oiço o rádio que tocava baixo sintonizado na única rádio capaz de transmitir a verdade do mundo e do país, com um copo de água em cima (acreditava-se que este impedia a Policia de detectarem as ondas da rádio). Imagino a minha avó em plena fábrica onde trabalhava a insurgir-se contra a entidade patronal e a exigir os direitos das colegas e das mulheres. Imagino o meu pai a correr pela Av. Da Liberdade abaixo, perseguido pelo primo que pertencia à PIDE (o meu pai descobriu-o nessa tarde ao comentar com ele um simples “Olha o Marcelo está na televisão” e ao ouvir da boca do primo voz de prisão por ofensa ao Dr. Marcelo Caetano.
Por tudo isto e muito mais, apesar de ter nascido 4 anos após o 25 de Abril, apesar de nunca ter vivido em ditadura sempre ter podido dizer o que penso, lido, vivido e ouvido o que quero, o que gosto, sempre vivi rodeada por pessoas que durante anos não o puderam fazer, pessoas que me ensinaram os valores de Abril, o valor de acreditar em mim e nos outros, o valor da liberdade e da liberdade do outro.
Por tudo isto assusta-me ver todos os dias cada vez mais atrocidades cometidas contra esses valores.
Assusta-me que sejam cometidos por pessoas que estiveram presentes em Abril, por gerações mais novas que a minha, pela minha geração. Porque significa que cada vez existem menos pessoas a saberem o que são esses valores e a importarem-se com eles tanto ou mais do que se importam com as suas vidas, porque a eles podem agradecer o que hoje são o que hoje têm.
Ontem li a crónica do Daniel Sampaio na Pública, suplemento do Público ao Domingo. E senti-me aliviada. Aliviada porque não sou a única.
Bom, tenho de ter em consideração que Daniel Sampaio não pertence à minha geração, por isso viveu o regime, mas pelo menos vi escrito aquilo que me incomoda à mais ou menos um ano e que nunca pensei que um dia me viesse a incomodar, até porque nunca imaginei que nas modas do revivalismo em que hoje em dia vivemos, pudesse existir lugar para este: Salazar.
Tal como Daniel Sampaio diz em “Farto de Salazar”, a sua crónica, “Depois de livros sobre Salazar que ocultaram com intenção o lado mais terrível do regime, após um concurso televisivo onde se esconderam as atrocidades da ditadura, chegámos ao embelezamento físico da personagem: a imagem «modernizada» de Salazar aparece-nos em cada esquina. Agora surge de cabelo colorido e aspecto tranquilo em cartazes por toda a cidade (…)”.
Pergunto-me: Estaremos assim tão loucos que se comece a esquecer o que foi o antes 25 de Abril? Estaremos assim com tão falta de identidade que começam a surgir por toda a parte um saudosismo a um nacionalismo invocado por uma ditadura de tortura, morte e castração mental? Estarão os nossos manuais de história leccionados nas escolas de hoje a omitir pedaços de história recente, que faz com que ninguém se revolte por este homem ser considerado a grande personalidade da nossa história? Serão mais importantes as novelas, os romances, os jogos de futebol, os jogos de consola do que a liberdade, do que a justiça ou a igualdade?
Peço desculpa se ofendo quem acredita neste senhor ou quem acha que estou a ser injusta porque defende o mesmo que eu, mas a verdade é que estou cansada mas acima de tudo ofendida.
Ofendida pelos discursos; pelas políticas; guerras; violações de direitos humanos em nome da democracia; pelas violações dos direitos mais básicos do ser humano: o direito a comer, à saúde, a viver; o direito a viver segundo as suas ideologias as suas crenças sejam elas de esquerda quer de direita, católicas, islâmicas, budistas, homossexuais, heterossexuais, pretos, brancos, norte, sul…mas acima de tudo ofendida por poucos se insurgirem e agirem contra estas violações, pela inércia das pessoas, por poucos se importarem realmente em lutar por manter vivos estes valores pelos quais os nossos avós, os nossos pais, lutaram, choraram, morreram quer psicologicamente quer fisicamente para ganhá-los, para que hoje eu pudesse escrever este texto e vocês o pudessem ler.
Como diz Daniel Sampaio “Para quem estiver, como eu, farto de tanta propaganda, uma frente de esclarecimento deve ser posta em marcha: com respeito pelas opiniões alheias (o que faltava ao homem de Santa Comba), é imperioso que informemos toda a gente – distraída ou inebriada pela atraente publicidade – de quem foi Salazar na realidade. Pela verdade. Pela memória das suas vitimas. Pelo direito à informação dos mais novos, que a continuar assim deixarão de perceber por que motivo se fez o 25 de Abril”.
Peço desculpa mas hoje revoltei-me e hoje agi à minha maneira…
segunda-feira, março 10, 2008
o blog...
Primeiro sorri e pensei "bom é uma forma também de divulgarmos o que estamos a ouvir e a sentir".
Mas a seguir comecei a pensar como este blog surgiu: 3 amigas num momento complicado a nível pessoal das suas vidas, e que precisavam de "desabafar".
Lembro-me que quem começou esta moda foi a Miriam, quando decidiu começar a enviar por email ou CTT aos amigos frases, textos, poemas, músicas, pinturas, fotografias, desafios do que ia sentindo no momento e que esperava as nossas respostas ansiosamente, coisas estas que ainda guardo religiosamente.
Um dia lembrei-me de que seria engraçado e uma forma de expiar os nossos demónios, construir um blog em que eu, ela e a Mary Cherry, uma das companheiras de todas as horas, pudéssemos partilhar os nossos desabafos.
As vidas mudam, complicam-se e o tempo, mágoa, angustia, dor aliviam-se ou agravam-se.
Ultimamente o tempo. Tem sido mais fácil (para mim pelo menos), colocar um vídeo de algo que estou a ouvir e que me diz algo, do que colocar em texto o que quero dizer.
E a verdade é que começo a sentir essa inquietação do ter muito para dizer.
O problema (ou não) é que o muito para dizer já não se limita ao coração, ao amor, à dor , à mágoa. Começa também a inquietar-me a minha participação na sociedade, na vida no dia-a-dia. Começa a incomodar-me a minha inércia face a algumas coisas pelas quais já devia falar, estudar ou lutar à algum tempo.
Assim vou seguir o conselho da minha Bia e vou começar a inquietar-me...